1. O que é um ensaio filosófico?
Um ensaio filosófico é um texto argumentativo em que se
defende uma posição sobre um determinado problema filosófico. Uma vez
que a melhor maneira de formular um problema é fazer uma pergunta, o
objectivo de um ensaio filosófico é responder a uma pergunta e defender essa
resposta, oferecendo argumentos e refutando as objecções.
2. O que se espera que um estudante mostre ao escrever um ensaio?
Um ensaio deve mostrar que o seu autor sabe relacionar o
problema com as teorias e argumentos em causa. É por isso que um ensaio
deve ter a forma de resposta a uma pergunta. A essa pergunta há-de ser
possível responder com um «sim» ou com um «não», procurando o estudante, em
seguida, avaliar criticamente os principais argumentos em confronto, de modo a
tomar uma posição pessoal na disputa. Num ensaio, o estudante não pode limitar-se a dar a sua
opinião. Tem também de avançar com argumentos e de responder aos
argumentos contrários. Caso não lhe pareça possível defender uma das partes,
deverá dizer, ainda assim, porquê.
3. Como escolher o título do ensaio?
A melhor maneira de intitular o ensaio é apresentar o mais
claramente possível o problema que se vai tratar. E a melhor maneira de o fazer
é colocar uma pergunta.
4. Como se prepara um ensaio?
Leia criticamente os textos indicados pelo professor, e que
tratam do tema proposto. Nessa leitura, deve procurar identificar as teses
em confronto e os argumentos que as sustentam. Deve ainda procurar assegurar-se
de que compreende corretamente o que está em causa. Uma boa ideia é discutir os problemas e os argumentos com os
outros. Frequentemente, isso dar-lhe-á uma ideia mais clara da complexidade dos
problemas e da força dos argumentos.
Uma vez feita a leitura crítica dos textos e os problemas
discutidos, deve fazer um rascunho. Qual a tese a defender? Que argumentos
apresentar, e por que ordem? Quais as objecções a discutir, e quando? O que se
pretende? Tenha em mente que a
clareza do seu ensaio depende em grande parte da sua estrutura; por
isso, é importante começar por determinar o que se propõe fazer e como fazê-lo.
5. Como se deve estruturar um ensaio?
Habitualmente, um ensaio tem três partes: a introdução, o
corpo do ensaio e a conclusão. Das regras a seguir indicadas, 1, 2 e 3
aplicam-se à introdução; 4 a 8 ao corpo do ensaio; e 9 à conclusão. Se tudo correr
bem, as conclusões que vai tirar em 9 irão ao encontro do que começou por dizer
em 1 e 2. Tenha em mente que, num ensaio, apesar da introdução ser a
primeira coisa que se lê, é geralmente a última a ser escrita; isto porque só
depois da redacção final é possível ter uma visão de conjunto do
ensaio. O ensaio deve estruturado de acordo com as seguintes nove
regras:
1. Formule o problema
2. Diga qual o objectivo do ensaio
3. Mostre a importância do problema
4. Identifique as principais teses concorrentes
5. Apresente a tese que quer defender
6. Apresente os argumentos a favor dessa proposição
7. Apresente as principais objecções ao que acabou de ser
defendido
8. Responda às objecções
9. Tire as suas conclusões
Formule o problema. Deve começar pelo problema. Mas, muitas
vezes, não basta formular o mais claramente possível o problema
para as coisas ficarem completamente claras e não haver margem para dúvidas ou
ambiguidades. Se, por exemplo, se pergunta se os animais têm direitos, é
preciso dizer exatamente que direitos tem em mente e dar exemplos
concretos; deve igualmente deixar bem claro se está a referir-se a todos os
animais — incluindo os piolhos e as baratas — ou só a alguns. Diga qual o objectivo do ensaio. Um ensaio pode ter
diferentes objetivos Se o seu objectivo é oferecer razões para acreditar numa
determinada tese, então deve dizer que é isso o que vai procurar fazer.
Um erro frequente, ao escrever um ensaio, é não saber exatamente qual o
objectivo que se tem em mente, ao fazê-lo; se não sabemos onde queremos chegar,
dificilmente saberemos que caminho escolher. O resultado disto é,
frequentemente, um ensaio repleto de afirmações vagas e inadequadamente
defendidas. Um objectivo claramente definido é mais do que meio caminho andado
para um ensaio bem estruturado.
Mostre a importância do problema. Deve procurar mostrar por
que razão é importante que nos ocupemos do problema de que se
ocupa. Uma maneira de fazer isso é mostrar o que estaríamos a perder se
não o fizéssemos. Suponhamos, por exemplo, que se pergunta se a lógica formal
tem lugar na filosofia. Por que razão devemos ocupar-nos disso? Se
escolheu ocupar-se desse problema, é porque o considera importante; nesse caso,
sua resposta deve mostrar, por exemplo, que, se não nos preocupássemos
com a forma do raciocínio, não só nos arriscaríamos a cometer erros de
raciocínio, mas também a não compreender os raciocínios dos outros. Identifique as principais teses concorrentes. Aqui deve,
muito brevemente, apresentar as teses mais conhecidas que respondem a esse
problema. Se, por exemplo, se pergunta se as nossas acções são boas ou
más apenas em função das suas consequências, deve dizer que há duas
teorias principais concorrentes — o consequencialismo e o deontologismo — e o
que defende cada uma delas.
Apresente a tese que pretende defender. Neste momento, deve
apresentar a sua posição. Isso deve ser feito mostrando qual é a proposição que
irá ser defendida. Por exemplo, em relação ao problema de saber
se a existência do mal é compatível com a existência de Deus, e caso a sua
resposta seja afirmativa, pode tornar clara a sua posição começando por
dizer que defende a proposição expressa pela frase "Deus existe, apesar de
existir o mal no mundo". Em certos
casos, é possível e desejável apresentar exemplos do tipo de ideias que quer
defender.
Apresente os argumentos a favor dessa proposição. Deve
apresentar cuidadosamente os argumentos a favor da proposição que quer
defender. Pode haver vários argumentos. Alguns podem até ser argumentos
tradicionais, discutidos por alguns dos mais conhecidos filósofos. Nesse caso,
deve concentrarse apenas nos dois ou três que lhe parecem ser os mais fortes e expô-los por palavras suas, tentando mostrar que são válidos e que as
suas premissas são
verdadeiras ou, pelo menos, plausíveis. Um erro a evitar é,
aqui, é pensar que não há necessidade de muita argumentação para defender uma
proposição que é, para nós, evidente: afinal, já a aceitamos. Mas, muitas
vezes, temos tendência a sobrestimar as nossas convicções. Assim, devemos
partir do princípio de que o leitor — ainda — não aceita a nossa posição, e pensar
o ensaio como uma tentativa de o persuadir.
Apresente as principais objecções ao que acabou de ser
defendido. Presentemente, deve enfrentar as principais objecções aos
seus argumentos, quer indicando possíveis contra-exemplos ao que é afirmado
em alguma das premissas, quer disputando a sua plausibilidade, quer
questionando a validade dos próprios argumentos. Deve procurar as objecções que lhe
parecem mais fortes e não escolher apenas as mais fracas e fáceis de
responder. Nesta parte, deve apoiar-se nas leituras que lhe foram previamente
recomendadas. Deve, também aqui, apresentar as objecções por palavras suas, e
não limitar-se a citar os autores consultados, pois só assim mostra compreender
o que escreve. Responda às objecções. Uma vez apresentadas as objecções à
sua tese, deve dizer o que há de errado com elas, ou como lhes
responder. Tire as suas conclusões. Finalmente, deve resumir muito
brevemente o
seu argumento principal e expor as suas dúvidas, caso
existam. Mesmo que se incline mais para uma das respostas concorrentes, não deve
hesitar em apresentar os seus pontos fracos. Se lhe parecer haver razões para
não tomar posição na disputa, deve, ainda assim, apresentar essas razões.