sexta-feira, 3 de maio de 2013

COMO ELABORAR UM ENSAIO FILOSÓFICO



1. O que é um ensaio filosófico?

Um ensaio filosófico é um texto argumentativo em que se defende uma posição sobre um determinado problema filosófico. Uma vez que a melhor maneira de formular um problema é fazer uma pergunta, o objectivo de um ensaio filosófico é responder a uma pergunta e defender essa resposta, oferecendo argumentos e refutando as objecções. 

2. O que se espera que um estudante mostre ao escrever um ensaio?

Um ensaio deve mostrar que o seu autor sabe relacionar o problema com as teorias e argumentos em causa. É por isso que um ensaio deve ter a forma de resposta a uma pergunta. A essa pergunta há-de ser possível responder com um «sim» ou com um «não», procurando o estudante, em seguida, avaliar criticamente os principais argumentos em confronto, de modo a tomar uma posição pessoal na disputa. Num ensaio, o estudante não pode limitar-se a dar a sua opinião. Tem também de avançar com argumentos e de responder aos argumentos contrários. Caso não lhe pareça possível defender uma das partes, deverá dizer, ainda assim, porquê.

3. Como escolher o título do ensaio?

A melhor maneira de intitular o ensaio é apresentar o mais claramente possível o problema que se vai tratar. E a melhor maneira de o fazer é colocar uma pergunta.

4. Como se prepara um ensaio?

Leia criticamente os textos indicados pelo professor, e que tratam do tema proposto. Nessa leitura, deve procurar identificar as teses em confronto e os argumentos que as sustentam. Deve ainda procurar assegurar-se de que compreende corretamente o que está em causa. Uma boa ideia é discutir os problemas e os argumentos com os outros. Frequentemente, isso dar-lhe-á uma ideia mais clara da complexidade dos problemas e da força dos argumentos.
Uma vez feita a leitura crítica dos textos e os problemas discutidos, deve fazer um rascunho. Qual a tese a defender? Que argumentos apresentar, e por que ordem? Quais as objecções a discutir, e quando? O que se pretende? Tenha em mente que a clareza do seu ensaio depende em grande parte da sua estrutura; por isso, é importante começar por determinar o que se propõe fazer e como fazê-lo.

5. Como se deve estruturar um ensaio?

Habitualmente, um ensaio tem três partes: a introdução, o corpo do ensaio e a conclusão. Das regras a seguir indicadas, 1, 2 e 3 aplicam-se à introdução; 4 a 8 ao corpo do ensaio; e 9 à conclusão. Se tudo correr bem, as conclusões que vai tirar em 9 irão ao encontro do que começou por dizer em 1 e 2. Tenha em mente que, num ensaio, apesar da introdução ser a primeira coisa que se lê, é geralmente a última a ser escrita; isto porque só depois da redacção final é possível ter uma visão de conjunto do ensaio. O ensaio deve estruturado de acordo com as seguintes nove regras:

1. Formule o problema
2. Diga qual o objectivo do ensaio
3. Mostre a importância do problema
4. Identifique as principais teses concorrentes
5. Apresente a tese que quer defender
6. Apresente os argumentos a favor dessa proposição
7. Apresente as principais objecções ao que acabou de ser defendido
8. Responda às objecções
9. Tire as suas conclusões

Formule o problema. Deve começar pelo problema. Mas, muitas vezes, não basta formular o mais claramente possível o problema para as coisas ficarem completamente claras e não haver margem para dúvidas ou ambiguidades. Se, por exemplo, se pergunta se os animais têm direitos, é preciso dizer exatamente que direitos tem em mente e dar exemplos concretos; deve igualmente deixar bem claro se está a referir-se a todos os animais — incluindo os piolhos e as baratas — ou só a alguns. Diga qual o objectivo do ensaio. Um ensaio pode ter diferentes objetivos  Se o seu objectivo é oferecer razões para acreditar numa determinada tese, então deve dizer que é isso o que vai procurar fazer. Um erro frequente, ao escrever um ensaio, é não saber exatamente qual o objectivo que se tem em mente, ao fazê-lo; se não sabemos onde queremos chegar, dificilmente saberemos que caminho escolher. O resultado disto é, frequentemente, um ensaio repleto de afirmações vagas e inadequadamente defendidas. Um objectivo claramente definido é mais do que meio caminho andado para um ensaio bem estruturado.

Mostre a importância do problema. Deve procurar mostrar por que razão é importante que nos ocupemos do problema de que se ocupa. Uma maneira de fazer isso é mostrar o que estaríamos a perder se não o fizéssemos. Suponhamos, por exemplo, que se pergunta se a lógica formal tem lugar na filosofia. Por que razão devemos ocupar-nos disso? Se escolheu ocupar-se desse problema, é porque o considera importante; nesse caso, sua resposta deve mostrar, por exemplo, que, se não nos preocupássemos com a forma do raciocínio, não só nos arriscaríamos a cometer erros de raciocínio, mas também a não compreender os raciocínios dos outros. Identifique as principais teses concorrentes. Aqui deve, muito brevemente, apresentar as teses mais conhecidas que respondem a esse problema. Se, por exemplo, se pergunta se as nossas acções são boas ou más apenas em função das suas consequências, deve dizer que há duas teorias principais concorrentes — o consequencialismo e o deontologismo — e o que defende cada uma delas.

Apresente a tese que pretende defender. Neste momento, deve apresentar a sua posição. Isso deve ser feito mostrando qual é a proposição que irá ser defendida. Por exemplo, em relação ao problema de saber se a existência do mal é compatível com a existência de Deus, e caso a sua resposta seja afirmativa, pode tornar clara a sua posição começando por dizer que defende a proposição expressa pela frase "Deus existe, apesar de existir o mal no mundo". Em certos casos, é possível e desejável apresentar exemplos do tipo de ideias que quer defender. 

Apresente os argumentos a favor dessa proposição. Deve apresentar cuidadosamente os argumentos a favor da proposição que quer defender. Pode haver vários argumentos. Alguns podem até ser argumentos tradicionais, discutidos por alguns dos mais conhecidos filósofos. Nesse caso, deve concentrarse apenas nos dois ou três que lhe parecem ser os mais fortes  e expô-los por palavras suas, tentando mostrar que são válidos e que as suas premissas são
verdadeiras ou, pelo menos, plausíveis. Um erro a evitar é, aqui, é pensar que não há necessidade de muita argumentação para defender uma proposição que é, para nós, evidente: afinal, já a aceitamos. Mas, muitas vezes, temos tendência a sobrestimar as nossas convicções. Assim, devemos partir do princípio de que o leitor — ainda — não aceita a nossa posição, e pensar o ensaio como uma tentativa de o persuadir.

Apresente as principais objecções ao que acabou de ser defendido. Presentemente, deve enfrentar as principais objecções aos seus argumentos, quer indicando possíveis contra-exemplos ao que é afirmado em alguma das premissas, quer disputando a sua plausibilidade, quer questionando a validade dos próprios argumentos. Deve procurar as objecções que lhe parecem mais fortes e não escolher apenas as mais fracas e fáceis de responder. Nesta parte, deve apoiar-se nas leituras que lhe foram previamente recomendadas. Deve, também aqui, apresentar as objecções por palavras suas, e não limitar-se a citar os autores consultados, pois só assim mostra compreender o que escreve. Responda às objecções. Uma vez apresentadas as objecções à sua tese, deve dizer o que há de errado com elas, ou como lhes responder. Tire as suas conclusões. Finalmente, deve resumir muito brevemente o
seu argumento principal e expor as suas dúvidas, caso existam. Mesmo que se incline mais para uma das respostas concorrentes, não deve hesitar em apresentar os seus pontos fracos. Se lhe parecer haver razões para não tomar posição na disputa, deve, ainda assim, apresentar essas razões. 

quarta-feira, 1 de maio de 2013

A LÓGICA: MATERIAL DE APOIO PARA AS TURMAS DO 1º ANO DO ENSINO MÉDIO



O que é Lógica? Estamos nos fazendo essa pergunta em nossas aulas e começando a estudar como o filósofo grego Aristóteles determinou certas regras e critérios que nos permitem verificar a validade ou não de um argumento. O vídeo desta postagem nos ajuda a compreender um pouco melhor a importância da lógica no nosso dia-a-dia...

A LIBERDADE EM SARTRE - MATERIAL DE APOIO PARA O 2º ANO DO ENSINO MÉDIO



O vídeo acima faz parte de um série de documentários elaborados pela BBC com o título 'Humano, Demasiado Humano". Trata-se de um exposição das ideias da vida de importantes filósofos da séc. XX. Como estamos estudando o pensamento de Sartre, sobretudo seu conceito de liberdade, essa excelente produção pode nos ajudar a compreender melhor seu posicionamento e ampliar nosso debate. 

A POLÍTCA: HANNAH ARENDT - MATERIAL DE APOIO PARA AS TURMAS DO 3º ANO DO ENSINO MÉDIO






Para os gregos clássicos os muros e as leis da polis eram apenas para manter a memória e a identidade de um povo. O que era de fato fundamental para a existência da polis não eram os muros, estes serviam apenas para acontecer o que era o mais importante: a convivência entre os homens, o espaço para a relação entre a ação e o discurso, isto é, o domínio público. Segundo Hannah Arendt, o domínio público é o resultado da ação em conjunto, o compartilhamento de palavras e atos.

Este espaço entre a ação e o discurso é a base da política para os antigos e a liberdade neste período era a existência deste espaço. Ou seja, política e liberdade no mundo grego não eram separadas estas eram associadas à capacidade do homem agir. A ação e o discurso eram o que pautavam a política e, assim, a liberdade. São as pessoas reunidas quem constituem a polis grega, isto é, o local em si não era fundamental, mas a liberdade de interagirem. Para os gregos Atenas era os atenienses. Assim, não importava onde, mas como esta relação acontecia. A polis era muito mais do que um lugar no mapa era antes um conceito. E o conceito de polis não existe sem os  cidadãos.

Nem todos os homens eram cidadãos da polis grega, existiam os escravos, os estrangeiros, os bárbaros, tal qual menciona Hannah Arendt. Somente os cidadãos eram livres. Eram livres para agir e para falar entre si, devido há pertencerem ao espaço da aparência. Diferentemente dos cidadãos, os escravos, os estrangeiros e os bárbaros, não estavam reunidos com o intuito de agir e falar. Estes grupos estavam à margem da política e, assim, à margem do que seria liberdade também. Poderia ser entendido que, por causa desta distinção entre cidadãos e não-cidadãos, não existiria liberdade de fato, ou ainda,  que as diferenças entre eles poderiam ser diferenças de classe. Contudo, as questões de classe tal qual imaginamos a partir da modernidade não eram um problema do mundo clássico. Assim, a concepção do que é liberdade é distinta entre o período clássico e a modernidade. Após o declínio do mundo antigo, somente na modernidade a questão da  liberdade voltou para o centro da política.

No império romano, após a decadência do mundo grego, a relação entre os homens,  mesmo eles sendo cidadãos de Roma, não era a mesma em comparação aos cidadãos da polis grega. Roma era o inverso da polis grega no ponto em que as leis da polis não eram o fundamental para a sua existência, mas sim, os seus cidadãos e a relação entre eles. Em Roma a sua legislação e a sua fundação eram a sua base e não existia relação entre os cidadãos de Roma, porque o mundo pré-político era superior ao mundo político. Ou seja, a fabricação era superior à ação.

A fabricação ao invés da ação proporciona, segundo Hannah Arendt, um remédio para a fragilidade dos assuntos humanos, ou ao menos uma tentativa de agir sozinho, o que parece ser dicotômico, pois a ação é atuada na coletividade. Durante todo o período do domínio romano este remédio foi utilizado. Contudo mesmo havendo uma possível aproximação da ação e da fabricação, a ação perderia a sua potencialidade. Pois sem ação essencialmente e sem a possibilidade do discurso sem censura e aberto não é possível haver liberdade política, ao menos não como os gregos exerciam. Assim, a ação, foi substituída pela fabricação em Roma, pois para os legisladores romanos o resultado era o principal, a relação entre, isto é, o espaço da liberdade foi substituído pela tirania. Somente uns poucos homens dominavam o estado e mais, o legislador tinha poderes absolutos, os cidadãos não exerciam as suas potencialidades, desta forma, não havia liberdade, pois não havia prerrogativas necessárias à liberdade  em Roma, para os romanos. A questão da liberdade política retorna com a modernidade.

Durante o período compreendido entre a Grécia antiga e a modernidade, a liberdade ficou restrita à interioridade, ou mesmo, à religiosidade, por causa disto, o conceito de liberdade não estava mais atrelado à política, mas ao sujeito (interioridade), e também ao livre arbítrio (religiosidade). Estes dois pontos estão relacionados ao primeiro, isto é, à interioridade. A Idade Média sofreu grande influência da religião cristã e, desta forma, a noção de liberdade perdeu o seu sentido político tal qual entre os gregos, e passou a ser definidas às atividades pré-políticas.

A modernidade teve início então com as revoluções americana e francesa, e a concepção  de liberdade política foi retomada, mas não da mesma forma que na Grécia antiga. A concepção de liberdade política foi diluída à liberdade individual. O seu conceito moderno não é mais o mesmo do que entre os gregos. Também a partir da modernidade foi instaurada a polarização entre liberdade e igualdade, apesar destes dois pontos estarem juntos no ideário da Revolução Francesa, eles seguiram rumos distintos entre boa parte dos pensadores daquele período. E assim, liberdade e igualdade deixaram de ser relacionadas para se tornarem opostas. Na polis grega a liberdade não era possível sem a isonomia (princípio de igualdade). A isonomia, segundo Hannah Arendt, garantia a igualdade justamente porque os homens não são iguais, os homens são por natureza diferente. A igualdade se dava não entre os homens, mas na polis.

Assim, Hannah Arendt afirma: A igualdade só existia neste  campo especificamente político onde os homens se encontravam mutuamente como cidadãos e não como pessoas particulares. O cidadão o é na polis, fora dela, ou seja, fora do mundo político, não há igualdade entre os homens. Hannah Arendt afirma ainda que a liberdade e a igualdade não são próprias da natureza humana, são em verdade, artificiais, produzidas pelo homem.

Fonte: http://www.puc-rio.br/pibic/relatorio_resumo2012/relatorios_pdf/ctch/FIL/FIL-Patricia%20de%20Araujo%20Costa.pdf

Boas Vindas!




Este espaço andou vazio. Deixei-o de lado há muito tempo. Porém, percebi que os temas sobre os quais aprendemos e refletimos em sala de aula não se esgotam naqueles minutos que passamos juntos. É preciso ir um pouco além. Exigir mais dos assuntos e de nós mesmos. Precisamos nos recordar que fazer o mínimo é sempre o modo mais seguro para fracassarmos. Por esse motivo, a parir de hoje esse será um espaço para aprofundarmos nossos estudos e desejar sempre um pouco mais de nós mesmos... Para vocês e, principalmente, para mim...